Saturday 22 March 2014

Uma conversa de dar asas.

                            Uma conversa de dar asas.

- Moça o que é que a senhora tem?

- Nada não seu moço, é só um pássaro aqui dentro, sabe?

- Como é que é, moça?

Deixe-me lhe explicar. É um pássaro seu moço, que vira e mexe quer voar, mas eu digo NÃO, é na gaiola que tu vais ficar. Mas me diga você seu moço, se você iria gostar, se caso você fosse um pássaro, de na gaiola ficar? Quando ela ta triste, um piu ela não dá! E eu fico aqui, tristonha a lamentar.

É que ela já foi um pássaro selvagem, as asas já bateu, livre a voar. Hoje seu moço,  ela fica assim, sem nem cantarolar. Tem dias que ela até se atreve de piar, um pio momentâneo que me faz um pouco sonhar, mas o peso do dia-a-dia logo faz ela calar

- Mas moça, o pássaro come o que ai dentro dessa gaiola?

Ihhh moço...  e se eu disser que faz é tempo que eu não alimento ela aqui dentro, o senhor vai acreditar? É complicado seu moço, ela se alimenta de coisas, que hoje, eu não posso dar. Se ontem ela voava livre e eu podia alimentar, hoje ela está presa e nem um sonho eu consigo lhe dar.

- Mas moça eu não entendo, que diacho de pássaro é esse que a senhora quer me falar?

Esse pássaro se chama vida, moço. Esse mesmo, que antes saia por ai a voar, que de uma vida livre já pôde experimentar. Esse que tinha uma fome insaciável, que se lambuzava de felicidade, se enchia de sonho e prazer. De viver.

- Mas moça, e me diga o porque que a senhora não solta logo esse danado que é pra ele viver?

Ô moço, é que são tantas coisas...

- Não moça, só de uma coisa eu vou lhe dizer; se a senhora ama a vida, e não quer ver ela se entristecer e pro resto da vida nessa gaiola viver, ta na hora da senhora dar asas a essa danada, pra depois não se arrepender.
Olhe moça, o tempo passa rápido, e a senhora não deveria privar vida de viver. Veja que pássaro tão lindo esse tal de vida, que a senhora não quer deixar ele livre ser! Solta logo essa danada desse vida e deixe ela as asas bater!

Eu sei disso moço. Me desculpe, mas acabou a hora do meu almoço, e da sua prosa eu tenho que agradecer, mas infelizmente, agora eu tenho mais trabalho pra fazer.

- Moça, só mais uma coisa. Não deixe o tempo passar e essa vida morrer.

(Bianca Babini)